Eu não costumo me queixar do clima porque acredito que isso faz com que eu me sinta ainda pior.
O que posso fazer a respeito, simplesmente faço: ar condicionado onde trabalho, ventiladores sempre que possível, roupas frescas, comidas leves, piscina o quanto antes e, é claro, muito líquido.
Procuro beber água, mais que qualquer outro refresco. Evito refrigerantes, uso sucos de fruta sem açúcar.
Portanto, em um dia como o de hoje, a cada esquina, paro. Busco um banheiro ou uma geladeira. É o movimento padrão para reequilíbrio da homeostase.
Num desses passeios ao refrigerador, alcanço a água Ouro Fino. Flavorizada com maçã. Não enxergo o quanto é fálica instantaneamente.
Depois de perceber, eu procuro disfarçar. Eu tento fugir das minhas ilusões. Acredito em meu psiquiatra, desde que me lançou o petardo da "inveja do pênis", eu me policio.
Mas, em casos como o de hoje, não tenho por onde escapar. A embalagem da água foi dominando meus sentidos.
Dizia mentalmente "não é um pênis, não é um pênis".
Mas a tampinha cônica, o corpo em tubo com sulcos e a cor restrita ao topo foram mortais. Meu delírio é impaciente: já estavam tecidas conjunturas e provas no pensamento.
"Eu não posso estar errada desta vez".
Sempre que penso o mantra da verdade, sei que é tarde.
Venho escrever para tentar me aliviar da culpa de ter visto um pênis de novo ou de imaginar a perseguição que este modelo faz. Tento arrazoar minha mania.
Não tenho sucesso.
Termino mais convencida que antes de que a Ouro Fino integra a conspiração fálica mundial que pretende exterminar as mulheres dos cargos de chefia.
Imagino qualquer uma de nós empunhando este formato de garrafa d´água no meio de uma reunião: será o fim do respeito às nossas ordens. Ao baixar o tubo da boca, que moral restará para chefiar um grupo de homens?
E entre eles, já pensou?
"Quer um gole?"
Oferece ao amigo. Que cena trágica!
Procure a Ouro Fino pelas gôndulas e mande sua opinião. Estou sedenta de novas visões.
Até,
Paola.